Uma equipe de filmagem
estrangeira acompanha uma
operação da Polícia Civil em
uma violenta favela do Rio
de Janeiro. Durante a troca
de tiros um policial é morto.
O efeito nos colegas é devastador
e um deles, chorando,
é consolado pelo diretor das
gravações. A cena aconteceu
durante as filmagens do documentário
‘Dancing with
the Devil in the City of God’
(Dançando com o Diabo na
Cidade de Deus), do premiado
diretor sul-africano Jon
Blair, que espera distribuidora
no Brasil para lançá-lo.
O longa acompanha o
dia-a-dia de um policial civil,
um traficante considerado
um dos mais perigosos
na cidade e um pastor evangélico
que tenta resgatar almas
do tráfico, convertendoos
à igreja, sendo ele mesmo
umex-bandido.
“Pode-se dizer que o filme
é uma mistura de ‘Cidade de
Deus’ com ‘Tropa de Elite’,
só que é tudo real”, disse Jon
Blair aODIA. “É a primeira
vez que você temtraficantes
que aceitam mostrar as
casas, as vidas, falando abertamente,
mostrando o rosto”,
afirma o produtor do filme,
o jornalista inglês Tom
Phillips, que vive no Brasil
há cinco anos.
Até conseguir conquistar
a confiança dos bandidos,
eles passaram quase dois
anos acompanhando o trabalho
do pastor na favela. “Não
é um filme que você possa
chegar e dizer ‘Oi, gente,
queremos filmar aqui, tudo
bem?’”, brinca Blair.
Mesmo tendo conseguido
se aproximar tanto de bandidos
como da polícia, a equipe
viveu momentos de tensão.
“Uma semana antes de
começar a rodar, eu estava
com o pastor fazendo a préprodução
e começou um tiroteio.
Tive queme esconder
embaixo de uma mesa de sinuca”,
lembra Tom.
A equipe também ficou
impressionada porque eles
próprios estavam com equipamento
de proteçãomelhores
que o da polícia nas operações.
“Eu tenho filhos e jamais
entraria ali do jeito que
eles fazem”, avalia Blair,
com a experiência de quem
já trabalhou como correspondente
de guerra.
Diante do risco de serem
criticados por dar voz a traficantes,
eles se defendem. “Se
você não fala com eles, não
temdiálogo . Como vai resolver
o problema?”, argumenta
Tom. “Nessas comunidades,
longe da Zona Sul, não
temONG, projeto social”, observa
ele. “Mesmo os policiais
do filme falam que só
matar não resolve”, diz.