DJ Nuts e Hélcio Milito se unem na eterna busca pela batida perfeita
RIO - Fundador do lendário Tamba Trio, o percussionista e baterista Hélcio Milito, de 79 anos, cansou de sua geração:
- O cara chega para mim: "Hélcio, bate aquela vassourinha do Tamba." Pô, isso é morrer e estar enterrado há 50 anos! Depois que você toca com os caras que eles tentavam imitar, como Wes Montgomery, Gil Evans, Duke Ellington, vê que, no jazz, pode até chegar perto dos americanos. Mas vai ser mais um. Meu irmão (o pianista Osmar Milito) está perto. Mas já disse para ele: "Meu vizinho de 8 anos (em Carmel, Califórnia) toca melhor que você." Porque é deles, é como o brasileiro com um tamborim.
Aos 33 anos, como se ecoando as palavras de Milito, o DJ Nuts - entre outras coisas, co-responsável pela fusão de samba e hip hop de Marcelo D2 - também fala de suas diferenças para os colegas da sua idade:
- Entre os DJs, tem por aí um panorama de música-saladinha: "Meu som tem pitadas de hip hop, de maracatu, de sei lá o quê..." Isso é tão cafona! E vazio. Quem tenta fazer um pouquinho de tudo não faz nada.
Com 46 anos separando-os, eles resolveram juntar suas insatisfações com seus pares e unir forças pelo que acreditam ser a música que deve ser feita hoje por um percussionista com a formação de Milito e um DJ com a ambição de Nuts. A dupla prepara um disco, ainda sem título, a ser lançado até o fim de 2010 nos Estados Unidos, pelo selo californiano Mochilla - não há previsão de lançamento no Brasil.
- Milito montou lá em casa a tamba (instrumento inventado por ele em 1960, uma espécie de bateria com sotaque afro-brasileiro, para se tocar em pé, com couros, panelas e bambus) - conta Nuts (Rodrigo Teixeira na certidão). - Ele gravou uns ritmos que servem de base para colagens que faço, usando discos da minha coleção. Tudo analogicamente, eu não queria nada eletrônico. Gravamos também juntos, com ele na tamba e eu no toca-discos.
A inspiração para a tamba, Milito conta, veio do espaço:
- A tamba está dentro das transformações da época, de Brasília, bossa nova, conquista espacial... O formato dela me veio, aliás, pensando na (nave russa) Sputnik invertida.
Nuts e Milito buscam evocar no disco a sonoridade afro, ao mesmo tempo crua e elegante, de discos que o percussionista produziu na gravadora CBS entre 1968 e 1969. Ele foi responsável por alguns álbuns que, praticamente ignorados na época, hoje têm status de cult entre DJs e colecionadores. LPs como "Krishnanda", de Pedro Santos, e "Orquestra Afro-Brasileira", do grupo de percussão e metais comandado pelo maestro Abigail Moura.
- A Orquestra Afro-Brasileira não estava nem aí para o que o pessoal do jazz achava - lembra Milito. - Tocavam com vibrato, que aquela turma não aceitava. Sabia que não iam vender, mas tinha certeza de que seria importante gravar aquilo. Foi o mesmo com Pedro Santos. Falei para a CBS: "Deixa eu fazer esse, que depois eu gravo para vocês uma porcaria bem grande para vender."
No novo disco, sobre os ritmos de Milito (e usando-os como matéria-prima), Nuts cola sons de Pedro Santos e Orquestra Afro-Brasileira, além de outros que transitam na mesma frequência, como a também rara Tribo Massáhi. Mas o DJ explica que não há a intenção de explicitar referências - ou seja, a música está acima do exercício de connaisseur identificando o que saiu de que disco.
- É tudo abstrato, praticamente irreconhecível - diz, ressaltando que entraram gravações inéditas. - Milito apareceu com uma fita de rolo que ele gravou nos anos 90, tocando tamba. Vou usar. Leia a íntegra da reportagem na edição digital do Segundo Caderno (para assinantes)
- O cara chega para mim: "Hélcio, bate aquela vassourinha do Tamba." Pô, isso é morrer e estar enterrado há 50 anos! Depois que você toca com os caras que eles tentavam imitar, como Wes Montgomery, Gil Evans, Duke Ellington, vê que, no jazz, pode até chegar perto dos americanos. Mas vai ser mais um. Meu irmão (o pianista Osmar Milito) está perto. Mas já disse para ele: "Meu vizinho de 8 anos (em Carmel, Califórnia) toca melhor que você." Porque é deles, é como o brasileiro com um tamborim.
Aos 33 anos, como se ecoando as palavras de Milito, o DJ Nuts - entre outras coisas, co-responsável pela fusão de samba e hip hop de Marcelo D2 - também fala de suas diferenças para os colegas da sua idade:
- Entre os DJs, tem por aí um panorama de música-saladinha: "Meu som tem pitadas de hip hop, de maracatu, de sei lá o quê..." Isso é tão cafona! E vazio. Quem tenta fazer um pouquinho de tudo não faz nada.
Com 46 anos separando-os, eles resolveram juntar suas insatisfações com seus pares e unir forças pelo que acreditam ser a música que deve ser feita hoje por um percussionista com a formação de Milito e um DJ com a ambição de Nuts. A dupla prepara um disco, ainda sem título, a ser lançado até o fim de 2010 nos Estados Unidos, pelo selo californiano Mochilla - não há previsão de lançamento no Brasil.
- Milito montou lá em casa a tamba (instrumento inventado por ele em 1960, uma espécie de bateria com sotaque afro-brasileiro, para se tocar em pé, com couros, panelas e bambus) - conta Nuts (Rodrigo Teixeira na certidão). - Ele gravou uns ritmos que servem de base para colagens que faço, usando discos da minha coleção. Tudo analogicamente, eu não queria nada eletrônico. Gravamos também juntos, com ele na tamba e eu no toca-discos.
A inspiração para a tamba, Milito conta, veio do espaço:
- A tamba está dentro das transformações da época, de Brasília, bossa nova, conquista espacial... O formato dela me veio, aliás, pensando na (nave russa) Sputnik invertida.
Nuts e Milito buscam evocar no disco a sonoridade afro, ao mesmo tempo crua e elegante, de discos que o percussionista produziu na gravadora CBS entre 1968 e 1969. Ele foi responsável por alguns álbuns que, praticamente ignorados na época, hoje têm status de cult entre DJs e colecionadores. LPs como "Krishnanda", de Pedro Santos, e "Orquestra Afro-Brasileira", do grupo de percussão e metais comandado pelo maestro Abigail Moura.
- A Orquestra Afro-Brasileira não estava nem aí para o que o pessoal do jazz achava - lembra Milito. - Tocavam com vibrato, que aquela turma não aceitava. Sabia que não iam vender, mas tinha certeza de que seria importante gravar aquilo. Foi o mesmo com Pedro Santos. Falei para a CBS: "Deixa eu fazer esse, que depois eu gravo para vocês uma porcaria bem grande para vender."
No novo disco, sobre os ritmos de Milito (e usando-os como matéria-prima), Nuts cola sons de Pedro Santos e Orquestra Afro-Brasileira, além de outros que transitam na mesma frequência, como a também rara Tribo Massáhi. Mas o DJ explica que não há a intenção de explicitar referências - ou seja, a música está acima do exercício de connaisseur identificando o que saiu de que disco.
- É tudo abstrato, praticamente irreconhecível - diz, ressaltando que entraram gravações inéditas. - Milito apareceu com uma fita de rolo que ele gravou nos anos 90, tocando tamba. Vou usar. Leia a íntegra da reportagem na edição digital do Segundo Caderno (para assinantes)
Por:Leonardo Lichote
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